Infelizmente, ainda é comum ouvir as pessoas falarem que depressão é falta de Deus ou fé, preguiça, fraqueza ou qualquer outra coisa pejorativa. Não raro, vemos e ouvimos que para tratar uma depressão, ou outra doença emocional, basta conversar com amigas, viajar, sair, tomar chá etc., o que mostra total falta de conhecimento do assunto, falta de empatia e de respeito com as pessoas que vivem esse problema tão doloroso. A depressão é uma doença, que pode se tornar muito séria quando não tratada devidamente.
Ela se caracteriza geralmente por um estado de tristeza e perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, choro, desesperança, pensamentos negativos e repetitivos, e até mesmo de suicídios, quando muito intensa. De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 10, “o humor rebaixado varia pouco de dia para dia e, frequentemente, não é responsivo às circunstâncias... em alguns casos, ansiedade, angústia e agitação motora podem ser mais proeminentes em alguns momentos do que a depressão e a mudança do humor [...].” A depressão se diferencia da tristeza pela duração e intensidade com que se dá. Um quadro de depressão dura pelo menos duas semanas ou mais, causando um sofrimento significativo na pessoa, além de comprometer os diversos aspectos da vida do deprimido. A sua causa é multifatorial, ou seja, existe uma interação entre vários fatores de vulnerabilidade, como gene, ambiente, não havendo uma causa isolada, única. É sabido que filhos de pais com depressão têm maior risco de desenvolver um quadro depressivo, em média três vezes mais, e também vale ressaltar que a depressão, bem como os transtornos de humor em geral, pode conduzir o colaborador a mais afastamentos no trabalho do que outros problemas mentais, pois seus sintomas são mais intensos, podendo causar diminuição de produtividade, maior lentidão na resposta e déficit cognitivo, refletindo na atenção e na memória.
Se pegarmos como referência os dados do INSS de 2019, descobriremos que eles apontam um total de benefícios por transtornos mentais para 223.497 pessoas, equivalendo a 9,3% do total de afastamentos, e os transtornos de humor – dentre eles a depressão – representam 50,1% do total. Estima-se que em 2030 será a 2ª causa de incapacitação no mundo.
Outro dado significativo é que pessoas deprimidas têm 27 vezes mais chance de não conseguir um trabalho. Como vocês podem ver, o problema é muito sério, pois há diversos reflexos na vida familiar, social e profissional. Ou seja, as consequências ultrapassam as barreiras da vida privada e toda a sociedade, em maior ou menor grau, é afetada de diversas formas.
Mas o que fazer frente à depressão? E como ajudar uma pessoa com depressão? Vale reforçar aqui que é imprescindível buscar ajuda especializada, um médico psiquiatra, que poderá avaliar a necessidade ou não de entrar com uma medicação, e um profissional da psicologia, que dará início a um processo psicoterápico. Não são todos os casos de depressão que deverão fazer uso de medicamento, mas certamente o médico pode avaliar de forma segura.
A psicoterapia será suficiente em casos em que os sintomas forem leves, trabalhando assim os fatores que desencadearam a depressão. Analisar os aspectos que contribuíram para desencadear a depressão favorece o autoconhecimento do paciente e, também, auxilia a evitar recaídas por motivos similares, além de fortalecê-lo frente às adversidades da vida – da qual ninguém está imune.
Iara Maria Alves Pereira
Psicóloga Clínica e Ocupacional
CRP. 06/69640
Referências:
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 10 – Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. 10º Edição. Porto Alegre. Artmed. 1993.
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